Chris Kuiper, Vice President of Research da Fidelity Digital Assets, lançou um aviso explícito: as empresas que atrasam a adoção do Bitcoin correm o risco de destruir valor financeiro a longo prazo.
No panorama financeiro atual, Bitcoin emerge como um ativo de investimento excepcional, capaz de superar quase todas as outras categorias tradicionais nos últimos dez anos. Esta tese foi claramente ilustrada por Kuiper.
Summary
Bitcoin como reserva estratégica: dados e desempenho em comparação
Durante a conferência Strategy World 2025, Chris Kuiper destacou que, ao longo da última década, o Bitcoin registou um retorno composto anual médio (CAGR) de 79%, enquanto nos últimos cinco anos esse retorno foi de 65%. Esses números estão bem acima das performances oferecidas pelos instrumentos tradicionais e mais seguros, como os títulos de estado e as obrigações investment-grade, que em comparação devolveram um modesto 1,3% nominal no mesmo período.
O ponto crucial do discurso de Kuiper diz respeito à percepção tradicional do risco nas empresas. Muitas empresas tendem a considerar a volatilidade como sinônimo de risco. No entanto, Kuiper esclarece que a volatilidade não é o verdadeiro perigo, mas sim a perda permanente do capital. A esse respeito, ele chamou a atenção para o impacto negativo da inflação e a desvalorização das moedas fiat, fatores que corroem o valor real dos balanços empresariais.
Além disso, até mesmo os chamados refúgios “seguros”, como os títulos do tesouro americano, mostram rendimentos reais negativos no longo prazo, comprometendo a solidez financeira das empresas que dependem exclusivamente de tais instrumentos para guardar liquidez.
Estratégias para gerir a volatilidade do Bitcoin na empresa
Kuiper reconhece que a alta volatilidade do Bitcoin representa uma preocupação real para as empresas. No entanto, sugere duas estratégias simples mas eficazes:
- Dimensionamento da posição: o investimento em Bitcoin não deve ser totalizante, mas pode limitar-se a uma quota entre 1% e 5% de alocação do capital total.
- Visão a longo prazo: manter Bitcoin por períodos extensos permite reduzir o impacto das oscilações de curto prazo, transformando-o em um ativo estável ao longo do tempo.
Estas medidas permitem melhorar o rendimento ajustado ao risco do portfólio empresarial, limitando ao mesmo tempo a exposição a eventuais quedas inesperadas.
O papel do capital improdutivo e a eficiência do balanço empresarial
Uma parte significativa da intervenção de Kuiper diz respeito à gestão do capital inativo. Muitas vezes, as empresas mantêm grandes quantidades de caixa líquido ou investimentos de baixo rendimento, que penalizam o Return on Invested Capital (ROIC) — um indicador fundamental para medir a eficiência da gestão financeira e a capacidade de gerar valor.
Por exemplo, Kuiper destacou como o ROIC da Microsoft se reduz drasticamente de 49% para 29% se também forem considerados os fundos não investidos. Este exemplo ilustra como o capital “parado” resulta em um peso econômico e estratégico. Ao contrário, destinar uma parte deste capital a Bitcoin pode transformar liquidez “morta” em um ativo produtivo e potencialmente altamente remunerativo.
Kuiper lembrou finalmente que, enquanto as empresas frequentemente se concentram na demonstração de resultados e nos lucros de curto prazo, é o balanço patrimonial que fornece uma visão completa da saúde financeira. Neste contexto, o papel da liquidez é crucial. E é precisamente aqui que o Bitcoin pode oferecer um valor agregado significativo, modificando a natureza do dinheiro em caixa de uma simples passividade para um potencial investimento de longo prazo.
A pergunta chave para os executivos: oportunidade versus rendimento
Ao concluir sua apresentação, Kuiper fez uma pergunta importante aos executivos da empresa: “Qual é o vosso conjunto de oportunidades e acreditam que estas podem superar o Bitcoin?”
Esta reflexão estimula um confronto direto entre a estratégia financeira tradicional e a inovadora, destacando a crescente dificuldade em justificar a manutenção de grandes reservas líquidas sem rendimento significativo. A resposta a esta pergunta, segundo Kuiper, parece cada vez mais clara: Bitcoin representa uma oportunidade a não subestimar para salvaguardar e aumentar o valor da empresa.
Perspetivas para as empresas e o futuro dos investimentos digitais
A análise apresentada pela Fidelity mostra como Bitcoin não é mais um fenômeno exclusivamente especulativo, mas uma oportunidade estratégica real para as empresas atentas ao futuro financeiro. Para quem gerencia grandes balanços, o desafio consiste em adaptar mentalidades e alocação de ativos às novas dinâmicas de mercado.
No entanto, não é especificado de que forma diferentes tipos de empresas poderão integrar Bitcoin nos seus patrimónios, nem quais instrumentos regulamentares e fiscais acompanharão esta transformação.
Por este motivo, é desejável que as empresas continuem a estudar e aprofundar o tema, avaliando consultorias especializadas e estratégias de investimento graduais. Só assim poderão evitar ficar para trás e aproveitar plenamente o potencial de rendimento e proteção que o Bitcoin oferece contra a inflação e a erosão do capital.
Bitcoin confirma-se, portanto, como uma oportunidade concreta para as empresas, capaz de revolucionar a abordagem à gestão financeira. As sociedades que souberem integrar este recurso nos seus portfólios poderão melhorar significativamente a sua solidez e a capacidade de gerar valor a longo prazo. A pergunta permanece em aberto: as empresas saberão enfrentar este desafio ou continuarão a perder terreno nas dinâmicas do investimento moderno?